O que o Dinheiro não compra…
Seu sobrenome bem que poderia ser Trabalho, mas era Santos… Flávio dos Santos para ser mais precisa…
Nascido em família bem simples, Flávio sempre deixou claro que queria mais… Queria ser grande, rico, poderoso e influente.
Seus pais tinham estudado, não chegaram a fazer faculdade, mas nunca lhes fez falta. Conheceram-se no banco onde trabalhavam, se apaixonaram e casaram-se um ano depois… Com suas economias compraram uma casa pequena, mas aconchegante e não demorou muito Flávio nasceu. Ele foi o único e desde aquele momento, passou a ser a prioridade número um de seus pais. Até aquele momento, todos os instantes possíveis eram divididos com Flávio. Iam a todas as peças de teatro da escola, a todas as reuniões, festas… Faziam questão de estar sempre presentes e bem por isso haviam renunciado a varias oportunidades de crescimento dentro do banco, pois lhes tomaria tempo demais, e esse tempo era da família.
Flávio cresceu cercado por esse carinho e essa dedicação… Nunca precisou trabalhar pra ajudar em casa, dedicava-se aos estudos e conseguiu entrar em um curso muito concorrido com uma certa facilidade.
Era hora de ir. A universidade era muito longe, viajar todos os dias se tornava impossível… Lembro-me de que nunca vi maior tristeza em minha vida do que a que vi nos olhos dos pais de Flávio ao verem seu ônibus partir… Mas ao mesmo tempo em que havia essa tristeza, eles compreendiam que seu filho estava crescido e no caminho certo.
Flávio não derramou uma lágrima sequer, ao contrário, parecia feliz e aliviado em deixar aquele lugar de que tinha até uma certa vergonha…
Os 4 anos que se seguiram não foram fáceis para ele. Vivia no alojamento da universidade e recebia uma bolsa de pesquisa. Foi assim que se sustentou.
Não demorou para que fosse chamado para ingressar em uma grande empresa. Fez um ano de estágio e foi efetivado na função.
Como seus pais, conheceu a mulher de sua vida nessa empresa, como tudo para Flávio tinha que ser pra ontem, não namoraram nem seis meses e já estavam casados e ele esperava sua primeira filha.
Trabalhando mais de 10 horas por dia, inclusive aos sábados, Flávio foi crescendo na empresa… Havia entrado como estagiário e hoje estava sendo promovido a gerente geral da unidade.
Seis longos anos… Demorou seis anos para que a tão sonhada promoção viesse. Seis anos de trabalho duro, sem finais de semana, sem viagens, sem tempo pra mais nada, inclusive para sua família.
Sua esposa o amava muito e tentava convencer a si mesma de que era tudo pela família, mesmo sabendo que na verdade o ego inflado de Flávio jamais permitira que eles tivessem uma vida mais tranqüila.
Após ser promovido a gerente, a rotina de Flávio só piorou. Agora ao invés de 10 horas de trabalho por dia, eram no mínimo 14… Fim de semana? Viagem de negócios… Tornou-se um estranho dentro de sua própria casa…
Passado alguns anos dessa loucura, uma bomba caiu sobre a cabeça de Flávio. Algo para o que ele não estava preparado e nem sequer tinha sonhado…
Sua garotinha, agora já com 8 anos, ao realizar um exame de rotina, foi diagnosticada com um tipo raro de leucemia, para a qual infelizmente não havia tratamento. Para ela só restavam 2 semanas de vida.
Foi então que pela primeira vez em sua vida, Flávio chorou! Suas lágrimas de desespero e remorso lhe traziam lembranças de sua vida até então… Tinha tudo o que sonhou, uma casa enorme com piscina, um carro de luxo, um ótimo cargo… Mas nada disso, nem todo dinheiro do mundo poderiam lhe comprar o tempo perdido, as peças de teatro da escola, as idas ao médico, os primeiros passos… Tudo o que ele havia perdido… Nada poderia trazer isso de volta e nada poderia dar a sua filha mais tempo…
Saiu imediatamente de férias e correu para sua casa…
As duas semanas que se seguiram valeram mais do que toda sua vida até então…
Ele ficou o tempo todo ao lado da filha e da esposa. Iam ao cinema, pescar, ao parque de diversões… Fizeram piqueniques, passeios de barco… Viram shows infantis…
Mas como esperado, as duas semanas chegaram ao fim, e sua princesa se foi…
Uma parte de Flávio havia morrido junto com ela. O remorso, a culpa e a indignação tomavam conta de seu coração… Ele conseguiu entender, pela primeira vez em sua vida a opção de seus pais… Eles haviam escolhido ele e ele escolheu a carreira… Era triste…
No sétimo dia do falecimento de sua filha, a esposa de Flávio deu-le uma caixinha. Ele não entendia muito bem, mas ela lhe disse que tinha sido um pedido da filha.
Ao abrir a caixa, seus olhos se encheram de lágrimas e ele chorou mais uma vez… Na caixa haviam várias fotos, lacinhos de cabelo, o diploma da escolinha, o boletim, um desenho da família… Mas o que lhe tocou foi o bilhete que sua pequena havia deixado, que dizia:
“Papai, como sei que o senhor é um homem muito ocupado e por isso não sobra muito tempo para mim e a mamãe, vou começar a guardar as coisas mais importantes pra mim para que o senhor possa ver depois. Saiba que eu te amo muito papai e tenho certeza que ainda teremos muito tempo para brincar juntos… Um beijo papai, da sua filha que te adora…”.
Toda sua riqueza, todo tempo dedicado ao trabalho, toda sua carreira… Ele trocaria tudo por apenas mais uma semana que fosse… Uma semana a mais ao lado de sua princesinha…
Quantas vezes deixamos as pessoas que amamos de lado e priorizamos o material, o dinheiro…
Pequenos momentos são únicos e valem a pena ser divididos com aqueles que amamos para que no fim não haja arrependimentos, remorso e culpa.
Ame hoje, cuide hoje, demonstre carinho hoje, de atenção hoje… Não espere a melhor hora, o melhor momento, pode ser que ele nunca chegue…
Por RebelHeartBR
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